Sunday, May 25, 2008

Sons por Palavras


Danko Jones - Never Too Loud

Vi uma actuação de Danko Jones em Paredes de Coura há uns anos atrás. Foi o primeiro contacto que tive com a música deste canadiano. E foi um concerto memorável para muitos dos que o presenciaram. Por várias razões: por se sentir que a maior parte das pessoas lá presentes o ouviam pela primeira vez; pela força da interpretação; pela genuinidade das palavras proferidas. Num dos ramos do rock mais propenso a críticas fáceis do género “música datada” ou “ecos do passado”, a potência da actuação de Danko Jones ao vivo é como um assalto de boxe, atinge-nos de forma real.
Este Never Too Loud soa-me a meia desilusão também um pouco por tudo isto que foi dito. Ao quarto longa duração, o trio continua a apresentar guitarras fortes, bateria e baixo a funcionarem como propulsores, letras engraçadas e por vezes inteligentes sobre relações que correram mal e sobre sexo (todos os elementos que fazem desta música, música de Danko Jones)…simplesmente, ele já fez isto e já o fez melhor. A aposta numa veia mais melódica e melancólica, por vezes, talvez não tenha sido a mais acertada. Pelo menos na minha opinião.
Para quem já provou a atitude “festa toda a noite” e as malhas rápidas e groovy de trabalhos anteriores, Never Too Loud não pode deixar de saber a pouco. O velho Danko obrigava-nos a ter um pequeno sorriso na cara, quiséssemos ou não. Este Jones parece mais lento e triste, quem sabe deprimido!!
O começo até é auspicioso com “Code Of The Road”. A alegria Danko Jones presente, a luta de sempre em cada palavra. Bateria e baixo galopantes a segurarem a voz de Jones e a guitarra hard-rock. “Been a long time on this lonely road/Nothing comes easy, but it's worth the fight/If you've seen it once, I've seen it twice before/Little by little, mile after mile”. Huuu yeahhh.
Logo ao segundo assalto “City Streets” faz-nos torcer um pouco o nariz. Numa sonoridade próxima de Thin Lizzy, sente-se uma certa tristeza pouco habitual nas palavras. “I know I made my bed, but sad thoughts are in my head”. Aliás, este vírus afecta até canções declaradamente sexuais como “Still On High School”, o que seria impensável anteriormente.
“King Of Magazines” mantém a toada de guitarras a aproximarem-se do hard-rock mainstream, ritmos não muito acelerados, a chama da potência adormecida. “Forest For The Threes”, “Your Tears My Smile” e “Ravenous” irmanam-se nesta “nova sonoridade” do trio. Músicas muito direitinhas, competentes, mas a que falta aquele riff da guitarra…a que falta aquele break da bateria…a que falta aquela pujança do baixo. Nada de saudades depois de as ouvirmos. Mau sinal.
O brilho nos olhos volta a aparecer em “Let's Get Undressed”. A letra a marcar a cadência da música, a voz a tornar-se desafiante. E os instrumentos sem comedimentos, sem medo de se chegar à frente. Rock'n'Roll puro e duro. Agrada-me a secção rítmica deste tema, solta e rasgante. “Something Better” mantém apenas parte destes predicados, no entanto, a voz é a do “velho” Danko Jones e isso por si só já vale alguma coisa. Esta trilogia completa-se com “Never Too Loud”, música que fecha o álbum e que é adrenalina rock de casaco de cabedal preto. Old fashion style rock.
Lá pelo meio ainda se encontra “Take Me Home”, a prova de que a idade não perdoa e talvez aí resida esta acalmia na sonoridade, no cansaço, no desejo de descansar da estrada. Guitarras acústicas nos versos, voz limpa...nada de relevante, até conseguimos fazer coro no refrão.
No fundo, este continua a ser o som de Danko Jones e este não é um mau disco. Só que aquela reserva extra de energia que o músico costuma trazer consigo em cada nota, em cada palavra, não perpassa todo o disco como é habitual.

Edgar Ribeiro
(edribeiro@clix.pt)

Tuesday, May 20, 2008

Baguette!


Foux De Fa Fa by Flight of the Conchords

Monday, May 19, 2008

Wednesday, May 14, 2008

Sunday, May 11, 2008

Sons por Palavras


Marah - Angels Of Destruction

Esta será provavelmente a melhor banda que ninguém conhece da América. Foi algo deste género o que disse um dos escritores da revista Entertainment Weekly, há uns anos atrás, para justificar a escolha do anterior álbum dos Marah como o melhor de 2005 para aquela publicação.
Não sei se serão a melhor banda desconhecida da América, mas que pelo menos a parte do desconhecido se mantém mais ou menos actual (neste lado do Atlântico), é certo.
E que este “Angels Of Desctruction” é um disco que foge da mediania também não necessitará de mais comprovação que a primeira audição do disco.
Mas afinal o que se pode ouvir aqui, sob a batuta dos irmãos Dave e Serge Bielanko, mentores e membros fundadores da banda? Nas palavras de Dave: “This new music was Rock'n'Roll, it was Folk, it was Punk, it was smart, sad, funny and perfect in every way”.
Canções com pés e cabeça. Melodias simples e cativantes. Pouco experimentalismo a dar prioridade à harmonia das músicas. Rock misturado com pop e emaranhado em folk e country (não é de estranhar, portanto, que o Boss já tenha colaborado com eles). E a mim, pessoalmente, faz-se ouvir a vontade de uma viagem coast-to-coast pela América num descapotável.
Logo a abrir “Coughing Up Blood” e “Old Time Tickin’ Away” dão o mote para a faceta rock dos Marah. Na primeira, o lap steel faz-se introduzir acompanhado de coros e um som algo pagão ao jeito dos Bad Seeds cresce no ar, deixando nos lábios um certo sabor de esquizofrenia saudável e gingona (não sei se isto existirá...eventualmente?!). Direito a harmónica na parte final da música. A segunda ganha em luminosidade, a que não será alheia uma postura mais pop da voz, dissimulada coerentemente no meio das malhas de guitarra e secção rítmica rockeira.
A este som mais próximo da sonoridade rock voltam em “Wild West Love Song”, tema quente e mexido, com o rufar da tarola a exigir ao corpo que não permaneça quieto, e “Wilderness”, esta com aproximações ao southern rock por força do ritmo dos teclados e das guitarras, suportados pelo sincronismo do baixo e da bateria a pautar o andamento galopante. Também os Rolling Stones são evocados algures lá pelo meio. Curioso é mesmo ouvirem-se por aqui gaitas de foles algures, a definir uma visão holística da música como forma de expressão sem tempo e sem pátria.
“Angels On A Passing Train” traz consigo um riff de guitarra pegajoso no início, desenvolvendo-se numa música que se poderia ouvir na banda sonora de um filme do Tarantino. Travo latino dos teclados e restantes instrumentos a flirtar com a melodia mainstream da voz dos refrões. Folk-rock tango? . “Smoke levitates away from us, like faces in a queensbound bus/ Holding your hand i'm an imperfect man with God on his side, somehow...someway...”; e a delícia do título da canção. Em “Santos De Madera” encontramos o single virtual deste verão, caso os Marah se ouvissem por cá (curioso que aqui ao lado em Espanha tenham uma legião de fãs). Ritmo a piscar o olho à rádio, la la las, versos que se colam à língua, ao cérebro e à pele.
Puxando mais a sonoridade para o folk e o country aparecem “Jesus In The Temple” e “Can´t Take It With You”, música de saloon com o upgrade de algumas dezenas de décadas a incluir instrumentos eléctricos. De qualquer maneira não tenho dúvidas, lá está ao balcão o xerife de coldre à cintura, jogam-se cartas naquele canto e passa uma mulher com um espartilho que faz os seios chegarem ao queixo! “Angels Of Destruction”, tema-título do álbum aproxima-se de Springsteen, a banda a soar como um todo coeso e a eliminar qualquer tentativa de sobreposição seja de que instrumento for, rock simples a fluir sob a estrutura de uma canção.
É o sabor a terra o que se desprende de “Songbirdz”, com uma tonalidade acústica a ecoar no ar; música de alpendre, portanto. Também não falta aqui uma balada de apertar o coração, claro. Tarefa nem sempre fácil de ser cumprida de modo competente, a sonoridade a la recentes Wilco de “Blue But Cool” atinge o alvo eficazmente, conseguindo estabelecer um estado de alma algo melancólico.
Este é indubitavelmente um disco de temas...religião, redenção, beleza, tristeza, dor, perdição, alegria. Talvez por ser tudo isto, que curiosamente é também o que nos faz humanos, seja tão “fácil” de ouvir. Embora só se descubra a sua plenitude ouvindo mais vezes e com atenção redobrada. Como se fosse uma daquelas pessoa de quem é muito fácil gostar-se, mas que quando conhecemos melhor, gostamos ainda mais!
Ou nas palavras, para mim algo exageradas, do USA Today, “A rock'n'roll album of biblical proportion”.


Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

Friday, May 2, 2008

Sons por Palavras


The Black Keys - Attack And Release

Os Black Keys são uma das melhores bandas rock actuais. Partindo desta premissa subjectiva e pessoal, acho que este Attack And Release é um disco para se ouvir muitas vezes, para se ir descobrindo.
Iniciando com “All You Ever Wanted”, uma música de tonalidade acústica, parece que os Black Keys estão apenas a descansar para as descargas eléctricas a que nos costumam habituar. O facto é que é uma canção muito bonita, a voz sincera pousada sobre acordes acústicos e uma harmonia da guitarra eléctrica com efeitos chorus e reverb; só na parte final se vislumbra uma espécie de apoteose com teclas è mistura.
É engraçado que será assim também que o álbum termina, numa toada lenta muito beatleana. “Things Ain’t Like They Used to Be” transparece a despedida magoada, a corte com um passado que foi bom...mas que não volta. As emoções a ganharem corpo fora da voz e da melodia, o mundo a desaparecer à nossa volta e a solidão a ganhar espaço, pouca a pouco, mais e mais.
“I Got Mine” soa a Black Keys clássicos. Um riff próximo de Jimi Hendrix com pózinhos de Black Sabbath. Energia a pairar electrificada no ar. A prova de que não são precisos milhões de dólares para se obter boa música rock. Pode bem ser feita por dois rapazes (sim, os Black Keyes são constituídos por apenas dois elementos) a tocar numa garagem (o que não é o caso, já que apesar da sonoridade muito lo-fi, este é o primeiro registo dos rapazes que é trabalhado naquilo a que verdadeiramente se pode chamar um estúdio, ainda que muito peculiar). O núcleo do rock não está no som mas na atitude. “Remember When (side B)” transparece a mesma força, guitarras a marcar o andamento, early’s Deep Purple na cabeça. Comparando com algo mais actual, vem-me à cabeça o nome dos Datsuns.
Logo a seguir “Strange Times” volta a trazer-me à ideia Black Sabbath, talvez mais pela sonoridade da guitarra do que por outra coisa qualquer, já que o refrão é mais melodioso e indie que a parte dos versos. De uma forma ou de outra acabo a pensar que se poderia ouvir a voz do Ozzy por aqui sem nada temer.
Um banjo introduz “Psychotic Girl”, canção desnudada e despida de adornos. “Just a psychotic girl/ and i won’t get lost in your world”, ouvido de uma forma crua, leva-nos a pensar que este é um tema estranho. Toda a sonoridade da música ajuda a criar esta sensação de estranheza: segundas vozes fantasmagóricas, o banjo a aparecer e desaparecer, sintetizador minimal, guitarra com efeitos. Definitivamente fora do comum.
Voltamos à pousar os pés na Terra com “Lies”. Muito por força dos blues, que fazem a sua primeira aparição. Orgão a clamar dor, ritmo pausado, deambulações instrumentais. “I wanna die without pain” vai saindo da garganta do vocalista. Uma sala escura, um copo no balcão, o cigarro aceso com a cinza quase quase a cair. “I got a stone where my heart should be/ and nothing i do will make you love me”. Blues, como ia dizendo. Que reaparece em “So He Won’t Break”, sendo aqui menos apegado às raízes e mais mainstream. Orgão hammond e teclados a sustentar dedilhados eléctricos, voz menos magoada e mais R&B.
“Remember When” é a de que menos gosto em todo o conjunto de músicas que aparecem no disco. Folk muito arrastada, afasta-se daquilo que o duo melhor faz. Talvez não seja uma canção fraca, simplesmente soa descontextualizada no meio do resto.
No meio dos extremos que a banda já percorreu em discos anteriores, a meio caminho entre a energia desenfreada e melodias contagiantes que apareceram amiúde no que foram fazendo, “Oceans & Streams” sintetiza bem o patamar em que os Black Keys se encontram. As malhas fortes continuam por lá, mas sem exageros. O swing cool e balanceado das melodias continua lá, mas sem previsibilidade. E juntam-se, equilibram-se.
Para o final deixo “Same Old Thing”, com um início suportado por uma flauta muito Jethro Tull a pairar sobre o riff da guitarra. A voz aparece e junta-se de forma perfeita ao andamento do conjunto. Tudo parece caminhar lado a lado em sintonia, como se nada quisesse retirar o brilho às restantes componentes do conjunto. Simplicidade absoluta; bateria, guitarra, voz, flauta no início e no fim. Encontramos sentido nisto, porque é o que a banda faz melhor.
Com um som muito próprio, que parece rock com alma que atravessou o tempo saído de um distante programa de rádio do passado, a banda tem-se imposto por mérito próprio no panorama musical. O facto de alguns nomes grandes (Robert Plant, Billy Gibbons, Kirk Hammett) revelarem que gostam de os ouvir, ajuda. E só apetece gritar “Let’s Go Keys”, tal como os fãs costumam fazer nos concertos, quando a banda se apresenta em palco.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)