Saturday, March 8, 2008

Sons por Palavras


Three - The End is Begun

No meio das bandas que actualmente despontam e dão cartas na área do moderno rock/metal progressivo baseado em agressivas e trabalhadas linhas de guitarra, os Three conseguem com este “The End is Begun” (quinto álbum do grupo) um lugar ao lado de nomes como os Dream Theater, por exemplo.
A sonoridade refrescante e original que a banda consegue atingir num meio nem sempre dado a grandes mudanças é um facto a registar, tanto mais que já não são nenhuns novatos nestas andanças, sendo o seu primeiro registo discográfico datado de 1998.
Apresentando um som polirrítmico onde sobressaem riffs rápidos e melódicos de guitarra acústica como em “The World is Born of Flame” e “The End is Begin” (que apresenta um cheirinho de guitarra flamenco) e uma percussão acente na dinâmica propulsora dos breaks da bateria lado a lado com poderosas linhas de baixo (“Battle Cry”;“My Divided Falling”), os Three não deixam de fora alguns dos tiques distintos do género, aparecendo também aqui as acrobacias vocais (“Shadowplay” e “The Last Play”, ambas com travo country) e as guitarras tipicamente heavy (“Serpents in Disguise” e “These Iron Bones”).
Na minha opinião, são mesmo as vocalizações demasiado doces (“Been to the Future” e “Bleeding Me Home” são disso exemplo) que se apresentam como o elemento menos forte da banda pois, apesar das inegáveis capacidades vocais, talvez falte a Joey Eppard um timbre mais forte e espesso para dar músculo às músicas.
Aqui a estrutura recorrente de quase toda a música actual “verso, refrão, verso, ponte, refrão” não se aplica automaticamente, embora os Three nunca deixem a faceta experimental atingir os limites, o que se constata na duração das músicas, que anormalmente para este tipo de som se mantêm quase todas na casa dos quatro minutos.
“All That Remains” é uma música harmoniosa e cativante, negra mas ao mesmo tempo encorajadora. Deixa-nos a trautear a melodia muito para lá da audição do tema. Já “Diamond in the Crush” é mais tipicamente rock, suportada por uma base rítmica galopante que permite às guitarras assumirem o papel principal. Em “Live Entertainment” descobrimos uma piscadela de olho a públicos não tão sintonizados com com este tipo de música e somos presenteados com uma música linear, com segundas vozes próximas do rock FM.
Numa altura em que fazer música que traga consigo algo de novo, personalizado e coerente é uma premissa que não acompanha a maioria das bandas actuais, julgo que é justo fazer sobressair este trabalho dos Three da amálgama de discos que nos entram pelos ouvidos quase diariamente sem nada acrescentarem.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

Sunday, March 2, 2008

Sons por Palavras


The Cult - Born Into This
A lendária banda rock The Cult regressou aos discos no segundo semestre de 2007. “Born Into This”, o oitavo álbum de originais, marca o regresso após seis anos sem novidades. E, diga-se, é bastante melhor que os dispensáveis dois álbuns anteriores.
Ainda assim, este disco não acrescenta nada de melhor ao que já foi feito pela banda, em obras que se tornaram clássicas, como “Love” e “Electric”. Portanto, não encontraremos aqui nada como as fabulosas “Lil' Devil”, “Love Removal Machine”, “She Sells Sanctuary”, etc.
Dito isto, a banda de Ian Astbury e Billy Duffy faz neste último lançamento um regresso às suas raízes rock. Embora não seja nenhuma obra prima, este é um disco que pode voltar a pôr no mapa do rock'n'roll o nome do grupo. Pelo menos os fãs mais antigos irão gostar, de certeza.
Só uma nota: este é um conjunto de canções que se vão entranhando mais e mais à medida que se vão ouvindo mais vezes. Depois de uma primeira audição é impossível disfarçar a estranheza provocada por alguns dos temas, mas em audições seguintes isso vai-se aplicando a um cada vez menor número de músicas.
Os riff orelhudos e poderosos do tema título “Born Into This” e de “I Assassin”, por exemplo, vão fazer alguns braços tocar “air guitar”, concerteza.
“Citizen” é um dos tais temas em que pensamos: eles já fizeram melhor do que isto. Embora seja uma música que se ouve bem, quando damos por nós já estamos a pensar noutra coisa qualquer que não na canção, o que nunca é bom sinal. Também “Diamonds” se revela de uma mediania desnecessária, soando a algo desinspirado.
“Dirty Little Rockstar” inicia com uma linha marcada de baixo, soando banal. Depois, numa segunda vez em que é ouvida deixa de soar tão previsível. À terceira tentativa, começa a parecer um tema típico de Cult, com um verso principal forte, cadência rock suportada por um riff de guitarra competente e a cada nova investida cola-se ainda mais aos ouvidos. Logo depois, “Holy Mountain” revela-se a surpresa do disco. A voz de Astbury a soar a Elvis, guitarra com efeito reverb, baixo e bateria em sintonia minimalista, a embalar-nos para um desgosto amoroso mal curado, a exigir a urgência de uma qualquer substância que anestesie o corpo e a mente para nos livrar da tristeza.
Pelo meio vamos encontrando alguns “standards Cultianos” como “Illuminated”, “Savages” e “Sound of Destruction”, recheados de riffs de guitarra bem delineados, letras um pouco sem sentido...
Resta falar de “Tiger in the Sun”, talvez a mais séria candidata a juntar-se ao rol de clássicos da banda. Um refrão cativante, cantado com toda a paixão, uma grandeza épica a soltar-se da música. Espiritualidade a pairar no ar, especialmente princípios budistas (o líder da banda encontrou-se já várias vezes com o Dalai Lama e visitou o Tibete e o Nepal) e a sensação de uma cruzada pela autenticidade espiritual.
Uma coisa ninguém pode negar aos The Cult, eles são daquelas bandas que se ouvem e, para o bem e para o mal, se identificam logo. A voz de Ian Astbury e as malhas de guitarra de Billy Duffy são únicas e distintas, produzindo um som que é o deles. Isso não conseguem todos.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

Tuesday, February 19, 2008

Sons por Palavras


Sons and Daughters - This Gift

Aos primeiros acordes de “Gilt Complex”, música de abertura de This Gift , a adrenalina começa a correr-nos nas veias. Rock despretencioso, sem desejo de ser original, como se a voz de Adele Bethel nos quisesse dizer que aqui a obsessão não é a de soar diferente, mas sim de soar a energia e frescura. Aliás, quase todo o álbum consegue manter a homogeneidade a nível criativo, com uma ou outra excepção. Penso mesmo que sem duas ou três canções (“Iodine”, “The bell” e “Goodbye Service” não trazem consigo nada de verdadeiramente relevante) este disco poderia tornar-se mais coerente.
Oriundos da Escócia, ao terceiro álbum os Sons & Daughters atingem a emancipação. Tendo como companheiros de lides nomes como os The Bravery, Franz Ferdinand ou Kaiser Chiefs, podem agora sentir-se no mesmo patamar que eles.
Guiados pela voz e presença de Adele, que parece deambular entre a postura de uma menina de boas famílias, bem comportadinha, e a de uma obscura e sexy “riot girl”, a banda consegue afirmar o seu perfil alternativo.
Rock e pop, Clash e The Smiths, Yeah Yeah Yeahs e PJ Harvey, um pouco de tudo isto vai desfilando por This Gift. Os singles já tirados do álbum (“This Gift” e “Darling”) são deliciosos. Simples tempero british sobre pop/rock directo. Pronto a servir.
As segundas vozes de “Split Lips”, “Rebel with the ghost” e “Chains” põem-nos a cantarolar uuh uuhs e la la las. Sabem bem. “The Nest” e “Flag” fazem-nos pensar rockeiramente; malhas simples, linhas de baixo directas, bateria a todo o vapor, vozes esforçadas.
Na sua maioria, estas músicas são dois, três minutos abrasivos, de respiração suspensa. Não é aqui que vamos encontrar novas epopeias musicais é certo, mas para quem procura apenas música pela música, sem pretensão de descobrir a “next big thing”...bateu à porta correcta.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

A ouvir:
Darling
Gilt Complex

boa capa


Contra-capa

Wednesday, February 13, 2008

Sons por Palavras


Blitzen Trapper - Wild Mountain Nation

Nascido em 2007, este “Wild Mountain Nation” é uma feliz descoberta neste início de 2008.
Rock puro entremeado de blues, de alcatrão,de country, de pó ferrugento, de southern rock; este disco revela-se um espasmo criativo, destilando uma estranha e lúcida harmonia e energia.
Ao terceiro álbum (a sabedoria popular costuma dizer que à terceira é de vez), os Blitzen Trapper oferecem-nos música não formatada pelos circuitos comerciais mais usuais. No tema que dá nome ao álbum, em “Country Caravan” e em “Wild Mtn. Jam” transportamo-nos para a pradaria americana, para logo de seguida “Miss Spiritual Tramp” e “Woof & Warp of the Quiet Giant’s Hem” nos darem a sensação de que chegamos do espaço interplanetário a uma quinta agrícola.
Em “Futures & Folly”, “Summer Town” e “Badger’s Black Brigade” sentimos que estamos a cantarolar à fogueira num qualquer acampamento na montanha, com direito a harmónica, céu estrelado e tudo o resto. E o genial “Devil’s A-Go-Go” é pura desconstrução atonal, tudo parece fora do sítio, tempo, afinação, compasso...e, no entanto, não conseguimos deixar de abanar a cabeça e de bater o pé ao som que nos entra pelos ouvidos.
Outras coisas também se conseguem ouvir por aqui, no puro prazer de descoberta que este disco proporciona. Ou como os próprios Blitzen Trapper dizem da mistura de coisas que confluem na sua música, tudo isto resultou numa “rica colheita: ossos empoeirados, nascer-do-sol, Philip K. Dick, Guernica, (...), flocos de neve, Scooby-Doo, Bigfoot”; tudo isto se encontra em Wild Mountain Nation.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

Thursday, January 10, 2008

Tinariwen


Banda formada em 1982 num campo de rebeldes Tuareg, e como arma para lutar pela independência do seu povo nada melhor do que as suas maravilhosas guitarras eléctricas.
Video da apresentação ao vivo numa loja de CDs em Nova Iorque.

Wednesday, January 9, 2008

Shout Out Louds - Tonight I have to leave it

Depois de "Young Folks" do trio sueco Peter, Bjorn and John, outra banda sueca a dar som à nova campanha publicitária de uma conhecida operadora telefónica.