Sunday, March 2, 2008

Sons por Palavras


The Cult - Born Into This
A lendária banda rock The Cult regressou aos discos no segundo semestre de 2007. “Born Into This”, o oitavo álbum de originais, marca o regresso após seis anos sem novidades. E, diga-se, é bastante melhor que os dispensáveis dois álbuns anteriores.
Ainda assim, este disco não acrescenta nada de melhor ao que já foi feito pela banda, em obras que se tornaram clássicas, como “Love” e “Electric”. Portanto, não encontraremos aqui nada como as fabulosas “Lil' Devil”, “Love Removal Machine”, “She Sells Sanctuary”, etc.
Dito isto, a banda de Ian Astbury e Billy Duffy faz neste último lançamento um regresso às suas raízes rock. Embora não seja nenhuma obra prima, este é um disco que pode voltar a pôr no mapa do rock'n'roll o nome do grupo. Pelo menos os fãs mais antigos irão gostar, de certeza.
Só uma nota: este é um conjunto de canções que se vão entranhando mais e mais à medida que se vão ouvindo mais vezes. Depois de uma primeira audição é impossível disfarçar a estranheza provocada por alguns dos temas, mas em audições seguintes isso vai-se aplicando a um cada vez menor número de músicas.
Os riff orelhudos e poderosos do tema título “Born Into This” e de “I Assassin”, por exemplo, vão fazer alguns braços tocar “air guitar”, concerteza.
“Citizen” é um dos tais temas em que pensamos: eles já fizeram melhor do que isto. Embora seja uma música que se ouve bem, quando damos por nós já estamos a pensar noutra coisa qualquer que não na canção, o que nunca é bom sinal. Também “Diamonds” se revela de uma mediania desnecessária, soando a algo desinspirado.
“Dirty Little Rockstar” inicia com uma linha marcada de baixo, soando banal. Depois, numa segunda vez em que é ouvida deixa de soar tão previsível. À terceira tentativa, começa a parecer um tema típico de Cult, com um verso principal forte, cadência rock suportada por um riff de guitarra competente e a cada nova investida cola-se ainda mais aos ouvidos. Logo depois, “Holy Mountain” revela-se a surpresa do disco. A voz de Astbury a soar a Elvis, guitarra com efeito reverb, baixo e bateria em sintonia minimalista, a embalar-nos para um desgosto amoroso mal curado, a exigir a urgência de uma qualquer substância que anestesie o corpo e a mente para nos livrar da tristeza.
Pelo meio vamos encontrando alguns “standards Cultianos” como “Illuminated”, “Savages” e “Sound of Destruction”, recheados de riffs de guitarra bem delineados, letras um pouco sem sentido...
Resta falar de “Tiger in the Sun”, talvez a mais séria candidata a juntar-se ao rol de clássicos da banda. Um refrão cativante, cantado com toda a paixão, uma grandeza épica a soltar-se da música. Espiritualidade a pairar no ar, especialmente princípios budistas (o líder da banda encontrou-se já várias vezes com o Dalai Lama e visitou o Tibete e o Nepal) e a sensação de uma cruzada pela autenticidade espiritual.
Uma coisa ninguém pode negar aos The Cult, eles são daquelas bandas que se ouvem e, para o bem e para o mal, se identificam logo. A voz de Ian Astbury e as malhas de guitarra de Billy Duffy são únicas e distintas, produzindo um som que é o deles. Isso não conseguem todos.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

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