Eddie Vedder - Into The Wild OST
Há músicas que nos fazem sentir vivos. Há também músicas que nos fazem pensar. Existem ainda músicas que nos invadem de tal forma que parecem querer expressar o nosso ser. Depois, é assustador pensar que a expressão artística de alguém nos diga tanto, como se fosse a passagem à realidade de algo que julgavamos intraduzível, simplesmente por ser nosso, por ser pessoal.
Este álbum de Eddie Vedder é uma verdadeira pérola. E devia trazer consigo pelo menos duas advertências: a de que deve ser tratado com cuidado, tal a fragilidade e a beleza do que contém; e, por outro lado, o aviso de que se pode tornar viciante e avassalador.
A música de “Into The Wild OST” é orgânica e natural.Penso que poderia ter sido composta em qualquer altura temporal tal a genuinidade que arrasta consigo.
A música de uma banda sonora comporta sempre um grande grau de exigência, pedem-se-lhe muitas coisas: que se adeque ao filme ajudando como veículo de transporte das emoções projectadas pelas imagens; que seja coerente; que tenha importância artística para lá do filme. É algo que, penso, a maior parte das bandas sonoras não consegue completar na totalidade.
Ainda não vi o filme, mas é já um ponto muito positivo este disco ter-me dado a vontade de o fazer. Sean Penn (o realizador do filme) não se enganou ao apostar em Vedder. E mais que isso, estes temas ganharam espaço próprio pela sua qualidade.
Mas vamos à música. Esta que ouvimos aqui expressa o coração da América dos grandes espaços abertos e dos horizontes que se perdem de vista. É o som que sai da terra das pradarias, da imensidão do Alaska, da aridez do Grand Canyon. É a confirmação de uma suspeita que vem já muito de trás, a de que Eddie Vedder tem alma de compositor.
Entre os instrumentos que se vão ouvindo, uma tónica na sonoridade acústica partilhada pela guitarras, baixo e percussão. Uma vez por outra aparecem as guitarras eléctricas, uma voz feminina, um bandolim. E sempre, sempre a voz de Vedder a chorar palavras que expressam a constante luta entre a individualidade humana e a necessidade social que por vezes submerge e asfixia essa individualidade (“society, crazy and deep / I hope you're not lonely without me”, canta ele em “Society”, uma versão da canção de Jerry Hannan). Penso mesmo que esta canção poderia tornar-se o hino contemporâneo de todos aqueles que sentem que não se ajustam.
Em pouco mais do que a meia hora que tem o disco ficamos indecisos entre qual das músicas ouviremos mais vezes. A belíssima “Hard Sun” (versão de uma música original de Índio) parece ser uma tentativa de consciencialização da nossa pequenez no mundo (“There’s a big, a big hard sun, beating on the big people, in the big hard world”). Impossível tirá-la da cabeça, aviso antecipadamente.
Logo a abrir, “Setting Forth” (uma das minhas preferidas, juntamente com “Hard Sun” e “Rise”) e “No Ceilling” marcam a toada do que vem a seguir: desprendimento, solidão, liberdade, procura, entusiasmo, solidão. “Sure as I'm leaving/ Sure as I'm sad /I'll keep this wisdom/ In my flesh” é o que ouvimos em “No Ceilling”.
“Rise” e “Long Nights” são introspectivas, uma procura de entendimento interior. Criamos raízes ao ouvi-las e ficamos com muitos, muitos anos de idade. Por vezes a esperança aparece timidamente.
“Far Behind” e “End Of The Road” são talvez as duas únicas músicas do disco que nos fazem pensar que poderiam ter sido compostas pelos Pearl Jam numa das suas incursões acústicas. Não que sejam temas menores, apenas penso que não atingem a plenitude das outras canções.
“Tuoloumne” é um simples dedilhar acústico de um minuto que serve de ponte para “The Wolf”, uma exortação primitiva similar a cânticos xamânicos de uma tribo índia.
A terminar, Vedder deixa-nos “Guaranteed” onde expressa o final da história. Aliás, o final de todas as histórias humanas. A finitude como pano de fundo para as palavras do cantor: “Leave it to me as I find a way to be/ consider me a satelite for ever orbiting/ I knew all the rules but the rules did not know me/ guaranteed...”.
E voltamos ao início para ouvir outra vez...
Há músicas que nos fazem sentir vivos. Há também músicas que nos fazem pensar. Existem ainda músicas que nos invadem de tal forma que parecem querer expressar o nosso ser. Depois, é assustador pensar que a expressão artística de alguém nos diga tanto, como se fosse a passagem à realidade de algo que julgavamos intraduzível, simplesmente por ser nosso, por ser pessoal.
Este álbum de Eddie Vedder é uma verdadeira pérola. E devia trazer consigo pelo menos duas advertências: a de que deve ser tratado com cuidado, tal a fragilidade e a beleza do que contém; e, por outro lado, o aviso de que se pode tornar viciante e avassalador.
A música de “Into The Wild OST” é orgânica e natural.Penso que poderia ter sido composta em qualquer altura temporal tal a genuinidade que arrasta consigo.
A música de uma banda sonora comporta sempre um grande grau de exigência, pedem-se-lhe muitas coisas: que se adeque ao filme ajudando como veículo de transporte das emoções projectadas pelas imagens; que seja coerente; que tenha importância artística para lá do filme. É algo que, penso, a maior parte das bandas sonoras não consegue completar na totalidade.
Ainda não vi o filme, mas é já um ponto muito positivo este disco ter-me dado a vontade de o fazer. Sean Penn (o realizador do filme) não se enganou ao apostar em Vedder. E mais que isso, estes temas ganharam espaço próprio pela sua qualidade.
Mas vamos à música. Esta que ouvimos aqui expressa o coração da América dos grandes espaços abertos e dos horizontes que se perdem de vista. É o som que sai da terra das pradarias, da imensidão do Alaska, da aridez do Grand Canyon. É a confirmação de uma suspeita que vem já muito de trás, a de que Eddie Vedder tem alma de compositor.
Entre os instrumentos que se vão ouvindo, uma tónica na sonoridade acústica partilhada pela guitarras, baixo e percussão. Uma vez por outra aparecem as guitarras eléctricas, uma voz feminina, um bandolim. E sempre, sempre a voz de Vedder a chorar palavras que expressam a constante luta entre a individualidade humana e a necessidade social que por vezes submerge e asfixia essa individualidade (“society, crazy and deep / I hope you're not lonely without me”, canta ele em “Society”, uma versão da canção de Jerry Hannan). Penso mesmo que esta canção poderia tornar-se o hino contemporâneo de todos aqueles que sentem que não se ajustam.
Em pouco mais do que a meia hora que tem o disco ficamos indecisos entre qual das músicas ouviremos mais vezes. A belíssima “Hard Sun” (versão de uma música original de Índio) parece ser uma tentativa de consciencialização da nossa pequenez no mundo (“There’s a big, a big hard sun, beating on the big people, in the big hard world”). Impossível tirá-la da cabeça, aviso antecipadamente.
Logo a abrir, “Setting Forth” (uma das minhas preferidas, juntamente com “Hard Sun” e “Rise”) e “No Ceilling” marcam a toada do que vem a seguir: desprendimento, solidão, liberdade, procura, entusiasmo, solidão. “Sure as I'm leaving/ Sure as I'm sad /I'll keep this wisdom/ In my flesh” é o que ouvimos em “No Ceilling”.
“Rise” e “Long Nights” são introspectivas, uma procura de entendimento interior. Criamos raízes ao ouvi-las e ficamos com muitos, muitos anos de idade. Por vezes a esperança aparece timidamente.
“Far Behind” e “End Of The Road” são talvez as duas únicas músicas do disco que nos fazem pensar que poderiam ter sido compostas pelos Pearl Jam numa das suas incursões acústicas. Não que sejam temas menores, apenas penso que não atingem a plenitude das outras canções.
“Tuoloumne” é um simples dedilhar acústico de um minuto que serve de ponte para “The Wolf”, uma exortação primitiva similar a cânticos xamânicos de uma tribo índia.
A terminar, Vedder deixa-nos “Guaranteed” onde expressa o final da história. Aliás, o final de todas as histórias humanas. A finitude como pano de fundo para as palavras do cantor: “Leave it to me as I find a way to be/ consider me a satelite for ever orbiting/ I knew all the rules but the rules did not know me/ guaranteed...”.
E voltamos ao início para ouvir outra vez...
Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)
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