Wednesday, March 12, 2008

Sons por Palavras


UNKLE - War Stories
Os Unkle são um colectivo de produtores que desafiam uma definição linear do som que fazem. Tendo já colaborado na mistura de álbuns de numerosos artistas (exº Oasis), gravado música para filmes (exº The Incredibles) e apresentando-se como um dos nomes maiores da área da remistura (já trabalharam com Queens of the Stone Age, Massive Attack, Beck, etc.), a sua música exibe contornos de electrónica, de rock e mesmo de música de dança. Sempre guiados por James Lavelle, que emerge como o guia espiritual do projecto.
O terceiro álbum , War Stories, à semelhança dos trabalhos anteriores, é um desfilar de vocalistas convidados que vai de Josh Homme (QOTSA) a Ian Astbury (The Cult), de 3D (Massive Attack) a Gavin Clark (ClayHill) , passando pelos The Duke Spirit e Autolux. De colocar água na boca. No entanto, este registo tem também a particularidade de nos oferecer a estreia como vocalista do próprio James Lavelle em “Hold My Hand”, sendo que em “Morning Rage” essa tarefa é dividida com Richard File, a actual “outra face” dos Unkle.
“Hold My Hand” é mesmo uma música penetrante,cruzando guitarras e electrónica, deixando a hipnótica voz de Lavelle a guiar-nos os pensamentos. Se tivesse menos que os seus cinco minutos beneficiaria enquanto canção. Já “”Morning Rage” é mais directa, com bateria (caixa de ritmos?!!) e baixo a parecerem uma locomotiva, mas acaba por se perder algures já que as vozes não aguentam a força necessária exigida pela parte instrumental e o refrão desilude.
Quanto às colaborações...bem, estranhamente ao que apostaria inicialmente, são as da linha mais electrónica e experimental (3D e Autolux) as que menos potenciam o som dos Unkle. As outras vão desde o competente até ao muito interessante.
No início do disco, passamos a instrumental e cinematográfica “Chemistry” e a estreia vocal de James Lavelle para sermos confrontados com a voz de Josh Homme em “Restless”. Num registo completamente diferente dos Queens of the Stone Age, marcado por ritmos mais repetitivos e dançáveis, a interpretação soa-me apenas a profissional. Em posteriores audições confirmo a suspeita, a insanidade dos QOTSA adequa-se mais aos lamentos de Homme do que algo mais próximo do “som de Bristol”.
À primeira aparição de Gavin Clark, o apogeu deste álbum em “Keys To The Kingdom”. Depeche Mode temperados a Nick Cave. Qualquer coisa de sublime a transbordar das palavras e a elevar-se acima da música. Grande voz. Grande música. Em “Broken” a colaboração de Gavin Clark não atinge o mesmo patamar, mas ainda assim é outra das grandes músicas aqui presentes.
A voz de Ian Astbury traz-nos outro momento alto. “Burn My Shadow” é uma canção clássica envolta em caixa de ritmos e sintetizadores, salpicada aqui e ali por guitarras indie e baixo rock, o que a leva em determinados momentos para o campo da experimentação para depois regressar ao formato inicial. Na segunda aparição, o resultado é diferente. Talvez se em 2007 Jim Morrison encontrasse Nick Cave e os Tindersticks este fosse o resultado, “When Things Explode”. Talvez.
Aliás, ao ouvir “Price You Pay” é novamente o nome dos Doors que me assalta as ideias. Começa como uma espécie de oração, passa para uma malha de baixo e sintetizador muito aproximada da banda de Morrison (embora com um som mais actual), volta ao murmúrio confessional...sim, provavelmente seria isto que os Doors fariam hoje em dia. Pessoalmente, fico com um sentimento ambíguo perante o tema. Uma letra mais rica, ao jeito do Rei Lagarto, ajudaria a decidir-me.
“Mayday”, com os The Duke Spirit ao leme é dos exercícios mais indie rock deste conjunto de canções. Poderia ser ouvida misturada com músicas dos Yeah Yeah Yeahs, por exemplo. Não destoa, embora não nos esmurre o estômago. Também “Lowless” percorre os mesmos trilhos, se bem que o minimalismo low-fi seja aqui mais interessante. Dois minutos e trinta e seis segundos a rockar.
De barriga cheia, deixo “Persons And Machinery” (com os Autolux) e “Twilight” (com 3D dos Massive Attack) para o final. Por me parecerem as propostas menos conseguidas. Perdidas entre a pop mais experimental e o trip-hop não chegam a ganhar espaço para respirar entre as outras canções que por aqui se ouvem. Talvez noutro contexto se revelassem diferentes. Aqui, ficam perdidas e desajustadas.

Edgar Ribeiro (edribeiro@clix.pt)

A ouvir:
UNKLE - Hold My Hand
UNKLE - Burn My Shadow

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